Programa: Ivone Figueiredo Lima
Ivone Figueiredo Lima
23/09/2023
Ivone Figueiredo Lima, 58 – viúva – mãe de 3 filhos, sendo 2 homens (gêmeos) e 1 mulher - empregada doméstica, nascida em Santa Cruz do Rio pardo, na fazenda Carrapatá - nas proximidades do posto Paloma. Seu pai era trabalhador rural da fazenda, bebia moderadamente, sua mãe tinha hidrocefalia, e por conta disso, tinha a saúde mental comprometida. Ivone era uma das cinco de seus pais e contava, também com dois irmãos. Na fazenda, ajudava nos trabalhos domésticos e ajudava nos cuidados com a mãe, que por conta da doença, não tinha condições de trabalho e as vezes partia para agressão dos filhos, sem motivo aparente. Seu pai era o único provedor da casa e praticamente foi pai e mãe dos filhos. Uma família humilde com poucos recursos financeiros. Houve tempo em que não se tinham o que comer à mesa. Ivone estudou até a quarta série do ensino fundamental, mas não ia todos os dias na escola, pois revezava com as irmãs, enquanto umas iam para escola outra ficava em casa cuidando da mãe. Quando adolescente, seus pais se mudaram para fazenda Solange, onde conheceu aquele que seria o seu marido, José Aparecido Lima - que era "amigo de bebida" de seu pai. Logo que se conheceram, Ivone, com 16 anos e José Aparecido, 25 anos fugiram da casa dos pais para formar sua família. Um mês depois estavam casados. Durante 35 anos Ivone enfrentou os desafios do alcoolismo do marido que já bebia desde seus 12 anos de idade. José Aparecido perdeu o pai quando tinha 12 anos de idade e assumiu o papel do homem da casa, precisou trabalhar para prover sua família, pois tinha duas irmãs mais nova e a mãe para sustentar, por isso foi trabalhar com os adultos da fazenda, onde conheceu a pinga que costumeiramente era ingerida no final do dia, após o trabalho. José Aparecido era pessoa rude, reclamão, grosseiro, mas encontrou guarida no coração de Ivone que assume ter se casado com ele por amor. Com dois meses de casado o alcoolismo do marido deu sinal de que o desafio seria grande. José Aparecido que tinha uma natureza bruta, no linguajar, quando bebia as coisas se acentuava ainda mais: xingamentos, discussões, desentendimentos preenchia o silêncio do lar. Quando Ivone estava no sétimo mês de gravidez do primeiro filho, num domingo, José Aparecido, já embriagado, resolveu dar um mergulho com um amigo no açude, próximo da casa, na fazenda Solange. Ivone morava de parede e meia com sua sogra que tinha mais duas filhas - A mãe de José viu que ele havia entrado, embriagado, na água foi atrás dele. Ivone, que nunca foi ir atrás do marido no bar ou em qualquer outro lugar, ficou em casa. Quando José Aparecido chegou em casa, começou a brigar com todos e quebrar tudo que encontrava pela frente - Ivone acha que isso aconteceu por que ela não foi junto com a mãe buscá-lo no açude. Nesse dia ele agrediu fisicamente a própria mãe, as irmãs e Ivone com chutes. Felizmente não foi na barriga. Depois José Aparecido se acalmou e foi dormir. Ivone nunca pensou em voltar para casa dos pais por causa da situação em que vivia. Ele fazia questão de cumprir o que foi prometido diante do altar: na saúde, "na doença até que a morte os separe" e de fato, Ivone amava o marido e tinha esperança que um dia ele pararia de beber. Um dia, cansada das agressões, Ivone disse ao marido: "a partir de hoje, se você me der um tapa, você vai levar outro, se me der dois tapas, vai levar dois tapas" e passou a agir desta forma. A princípio ele pegava uma faca e dizia que iria se matar - Ivone dizia, "pode se matar..." e ficava de olho no esposo e na faca. "Nunca saí correndo de casa por causa das brigas". Depois que Ivone passou a enfrentar o marido, as agressões acabaram... Os filhos de Ivone saíram cedo de casa: um dos gêmeos faleceu aos dois meses de idade, o outro, aos dezoito anos fez sua família e a menina pouco depois da maioridade também saiu de casa. Ivone acha que os filhos saíram cedo de casa por causa do alcoolismo do marido. Em 2014 Ivone já residia na cidade - Vila oitenta, uma vizinha, vendo aquela situação de alcoolismo do marido - na frente da casa da vizinha tinha um bar e José Aparecido sempre estava ali - a convidou para participar do Grupo de Apoio aos Depententes Químicos do Posto de Saúde da Avenida Tiradentes. A princípio Ivone hesitou em ir, mas no começo do ano 2015 - no dia 8 de janeiro Ivone começou a frequentar o grupo. Convidou José Aparecido, que nos dois primeiro dias foi e depois não quis ir mais... dizia que aquele lugar não era para ele porque ele não era drogado, não era dependente químico. Mas Ivone permaneceu a frequentar o grupo, porque percebeu que ela também precisava de ajuda. Foi nas reuniões do grupo que ela passou a entender o alcoolismo como doença. "para mim fez muita diferença participar do grupo - mudou meu jeito de pensar e agir". Algumas vezes José Aparecido voltou a frequentar o grupo, mas esporadicamente - as vezes ia bêbado no grupo. Mas não deu continuidade de presença nas reuniões. José Aparecido costumava dizer para os amigos que a casa dele era no bar. José Aparecido Lima faleceu no ano de 2015 em decorrência do alcoolismo. Em 2011 fez cirurgia do coração, com sucesso - Depois de quarenta dias pós cirurgia e voltou a beber - quebrou a casa inteira de novo. Em 2015 começou a por sangue pela boca, e no dia 13 de dezembro desse ano veio a falecer, em decorrência do alcoolismo. Em 2016, Ivone conheceu a Pastoral da Sobriedade e continuou a participar das reuniões. Em 2018 participou do Curso de Formação de Agentes da Pastoral em Santa Cruz do Rio Pardo. Hoje Ivone é agente da Pastoral da Sobriedade. Concluiu o ensino fundamental e médio - fez curso de Terapeuta Holístico em Dependência Química está cursando faculdade de Serviço Social. Hoje, de certa forma, Ivone ainda luta pela recuperação do esposo nos dependentes que procuram a Pastoral da Sobriedade em busca de mudança de vida.