Só por hoje

Só por hoje quero me questionar sobre o sentido de algumas realidades. Quero fazer uso dessa singular capacidade que é inerente ao ser humano: saber interpretar e buscar sentido em tudo. “Que sentido tem um discurso sem palavra ou uma fidelidade infiel? Que sentido tem um gesto sem gratuidade ou um conhecimento sem sabedoria? Que sentido tem um carinho que não acaricia ou uma mão que não afaga? Que sentido tem um líder que não lidera ou um trabalho que não realiza? Que sentido tem uma mística que não liberta ou uma pessoa que não ama? Que sentido tem um jardim que não encanta ou uma música que não ressoa? Que sentido tem uma riqueza que não enriquece ou uma educação que não constrói cidadania? Que sentido tem um olhar que não brilha ou um sonho que não decola? (Canísio Mayer).

Só por hoje quero compreender que todos os problemas são relativos na vida. Compreender que nenhuma dificuldade é absoluta. Todos os problemas são passageiros e podem ser vividos como uma verdadeira escola de aprendizagem. A própria natureza nos ensina que a luz do dia é sempre mais forte que a escuridão da noite, que a esperança é mais potente que a aparente força de sofrimentos, que a resistência no bem é mais forte que a força do mal. Só por hoje quero reforçar essa confiança. “Nunca houve uma noite ou um problema que pudesse derrotar o nascer do Sol ou a esperança” (Bern Williams).

Só por hoje quero viver como uma pessoa madura e como uma pessoa em constante busca dessa maturidade. Quero buscar confiança e segurança que me proporcionem unidade interna. Quero buscar o que for melhor para cada momento do meu viver. Desejo buscar a fidelidade nas coisas pequenas que desejam ser vividas grandemente. “A maturidade de uma pessoa não se descobre a partir de suas grandes decisões, mas no cumprimento de pequenas tarefas cotidianas” (Romano Guardini).

Só por hoje quero colocar-me a caminho e me sentir um caminhante. Quero sentir-me peregrino solidário em busca do melhor. “Há quem diga que o caminho é de ida. Há quem diga que é de volta. Há quem diga que é de encontro. Há quem diga que o caminho está feito. Há quem diga que se descobre. Há quem diga que o caminho já está traçado. Há quem diga que é horizonte aberto. Há quem diga que o caminho é de quem o vê. Há quem diga que é de quem nele se arrisca. Há quem diga que o caminho é de paz. Há quem diga que é de superação. Há quem diga que é de pedras. Há quem diga que é de jardim em flor. Há quem diga que o caminho é jeito de persistir. Há quem diga que o caminho está ao lado do caminho” (Canísio Mayer).

Só por hoje quero repensar a liberdade do escolher. Quero mergulhar no coração do povo que consegue interpretar os fatos, os acontecimentos, o dia a dia com bastante sabedoria. Um dos ditos da sabedoria popular afirma: você é livre para plantar o que quiser no seu jardim ou na sua terra. Mas você é escravo para colher o que plantou: se plantar trigo, trigo colherá; se plantar joio, joio colherá; se semear compreensão, carinho colherá; se semear vento, tempestade colherá; se plantar fofocas, confiança perderá; se plantar justiça, paz sentirá. “Você é livre pra fazer suas escolhas, mas prisioneiro de suas consequências” (Pablo Neruda).

Só por hoje quero despedir pensamentos inconsequentes, quero despedir medos, quero jogar fora o que atrapalha, quero desfazer-me da roupa do medo. Quero pensar sobre o lado agressivo do homem que pode ter reações inesperadas no trabalho, no esporte, no trânsito, na família, isto é, o sentimento da agressividade, do ciúme da vingança. Que eu não pense somente em mim nem seja mesquinho nos momentos em que os desejos de agressividade quiserem mostrar suas garras. Que eu saiba pensar, antes de reagir, nas pessoas que quero bem e que me querem bem. “Se vai executar sua vingança, cave duas sepulturas” (provérbio chinês).